Esgrima portuguesa está de luto pelo falecimento de Cristina Câmara 

“Quando, um dia, se fizer uma lista com as pessoas que, em Portugal, amaram a esgrima de forma mais desinteressada, a Cristina Câmara terá, com toda a justiça, um lugar de destaque. Ao longo de décadas, a Cristina treinou, enquadrou, ensinou e educou centenas de jovens. O Ginásio Clube Português foi sempre o clube do seu coração, mas a sua paixão estendia-se a todos os esgrimistas, da Madeira a Viana do Castelo. A todos ela quis ajudar. A todos deu o melhor de si própria, para formar não apenas esgrimistas, não apenas atletas, mas pessoas melhores.
Não faz sentido querer fazer um currículo desportivo da Cristina Câmara. Uma palavra basta para a definir: Esgrimista. Mas uma esgrimista a sério, daquelas cada vez mais raras. Daquelas que respeitam as regras e os valores, que ousam lutar mesmo quando a vitória parece impossível. Daquelas que, com cargos ou sem eles, respeitam e se fazem respeitar. Daquelas que, quando discordava de alguém – fosse o mais jovem atleta ou o Presidente da Federação Portuguesa de Esgrima – dizia-o na cara, invocando as razões. Daquelas que fazem falta e que devem ser homenageadas pela memória.
Por tudo isto, e por muito mais, a esgrima está de luto. Se justiça houvesse, o Desporto estaria de luto – mas a Cristina era quase uma anónima no panorama desportivo nacional (e não se importava nada com isso). Quando, no passado fim-de-semana, o coração da Cristina deixou de bater, ficámos todos mais pobres. Quem a conhecia, porque a perdeu. Quem não a conhecia, porque perdeu a oportunidade de muito ter aprendido.
Nestes elogios fúnebres costuma terminar-se com um “à família enlutada…”. Não o faremos porque, como os irmãos, os sobrinhos e os restantes parentes de sangue, também nós nos sentimos, todos!, da família da Cristina. E, como esses parentes, vamos ter saudades dela!”
Frederico Valarinho – Presidente da Federação Portuguesa de Esgrima
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