Texto de: Frederico Valarinho

O nome de José Capelo Franco Frazão (1872/1940) é virtualmente desconhecido para a maior parte das pessoas. E, no entanto, bem pode dizer-se que foi um elemento fundamental para a história do Desporto português – e em particular para a Esgrima.

Desde muito jovem, teve participação ativa na vida política nacional. Saltou para a ribalta aos 23 anos, ao proferir uma conferência sobre a economia social cristã e, depois, sobre a partilha de África. O seu espírito progressista levou-o a ser deputado apenas três anos depois, chegando à Presidência da Câmara dos Deputados (o equivalente da época à Assembleia da República). Para premiar as suas qualidades, o rei D. Carlos viria a atribuir-lhe, em 1900, o título de Conde de Penha Garcia, designação pela qual se tornou mais conhecido.

Esgrimista de qualidade, foi aluno do, à época, melhor mestre de armas português – António Martins, que era também o mestre do rei e dos príncipes. Esse talento viria a ser-lhe muito útil em julho de 1908, quando, na sequência de uma discussão na assembleia com o deputado republicano Afonso Costa, se bateu com ele em duelo.

A diferença de capacidades entre os contendores era gritante, mas Penha Garcia sabia que, se matasse o opositor, daria força redobrada aos republicanos. Assim, optou por se conter, limitando-se a ferir Afonso Costa no braço – o que bastou para limpar a honra de ambos.

Já depois da implantação da República, em 1910, transformou-se num dos grandes organizadores do desporto no nosso país, sendo por isso escolhido para presidir ao Comité Olímpico de Portugal (COP) logo após a sua fundação, em 1912. A sua paixão pela Esgrima refletir-se-ia na escolha de Fernando Correia, outro esgrimista, para ser o porta-estandarte na primeira participação portuguesa em Jogos Olímpicos, nesse mesmo ano, em Antuérpia.

Depois de concluir o seu mandato no COP, e consciente da necessidade de organizar a Esgrima portuguesa, em especial após a criação da Federação Internacional, foi um dos grandes defensores da criação da Federação Portuguesa de Esgrima (FPE). Esse projeto tornar-se-ia realidade em 1922, justificando plenamente a sua escolha, pelos seus pares, para ser o primeiro presidente da instituição.

Já no Estado Novo, depois do golpe de estado de 28 de Maio de 1926, assumiu o cargo de Ministro dos Negócios Estrangeiros. Foi, ainda, presidente da Sociedade de Geografia e diretor da Escola Superior Colonial (1928-1940). O seu reconhecimento internacional levou-o a fazer parte do Supremo Tribunal de Arbitragem da Sociedade das Nações (organização antecessora das Nações Unidas).

Amor maior

Quando nos aproximamos do centenário da fundação da FPE, é mais do que justo que se recorde esta personalidade de dimensão ímpar para a nossa modalidade. E, se é verdade que a sua primeira passagem pelos órgãos sociais federativos funcionou como uma espécie de prémio pela sua carreira desportiva, o seu amor pela Esgrima ficou mais do que provado quando, em 1928, após o regresso dos Jogos Olímpicos de Amesterdão, onde a equipa de espada conquistou a medalha de bronze, teve início um movimento contestatário que fez cair a Direção presidida pelo mestre Carlos Gonçalves e lançou a Esgrima na sua primeira grande crise institucional.

Nesse momento, reconhecendo o risco de extinção que corria a modalidade pela qual tanto tinha feito e, apesar de uma vida profissional assoberbada, aceitou voltar à Presidência da FPE por dois anos, numa tentativa de pacificar a Esgrima e os esgrimistas. Infelizmente,  em 1929, logo após Penha Garcia se ter afastado definitivamente da federação, iniciar-se-ia outra polémica, que atingiria o seu apogeu com a recusa dos melhores espadistas portugueses, considerados grandes candidatos às medalhas, em participarem nos Jogos de Los Angeles, em 1932, a menos que fossem eles próprios a fazer a equipa nacional…

Mas isso já é outra história!