Aventurando-se pela primeira vez na temática da Esgrima, o autor de livros infantis Vitor Morais acredita que a obra “Campeão das Espadas” lançada em 2019 tem incentivado miúdos e graúdos a praticar a modalidade. Para isso acontecer, a obra conta com a ajuda do jovem Afonsinho, protagonista inspirado no primeiro Rei de Portugal que, ao aprender mais sobre o mundo da Esgrima, faz com que os mais jovens se imaginem a querer ser “verdadeiros campeões” e os mais velhos viajem até à infância para “recordar o sentir de uma espada na mão”

Como surgiu a ideia para criar o livro “Campeão das Espadas”?

Para quem não sabe, este é o meu quinto livro infantil e, se na maioria dos anteriores escrevi acerca da modalidade de Ténis de Mesa, onde exerço funções, achei que estava na altura de me aventurar e de sair da minha zona de conforto e pensei: se há “O Campeão do Ping-Pong”, porque não haver também “o Campeão” em outras diferentes modalidades ou áreas? Com o desafio definido, restava então escolher a modalidade a abraçar. Embora nada percebesse de Esgrima, confesso que, tal como o Afonsinho da história, brincar com espadas era uma das minhas brincadeiras de eleição em criança e, também, tal como a família do protagonista da história, eu gosto e costumo visitar Feiras Medievais. A associação das espadas, digamos, mais tradicionais, às espadas da Esgrima acabou por ser rápida e natural.

Em que medida a obra pode incentivar os mais novos a interessar-se pela Esgrima?

Quanto à história do Afonsinho, eu pretendia, essencialmente, alcançar três grandes objetivos: recordar brincadeiras de infância nos mais velhos e potenciá-las agora também nos mais novos, contribuir para hábitos de leitura e  promover a prática do desporto, neste caso em particular da Esgrima. Através da leitura podemos ser e fazer tudo aquilo que quisermos. Espero que muitas crianças personifiquem o Afonsinho e saibam que a passagem do imaginário para a vida real está na simples procura de um clube, de uma Associação, de uma Federação que os ajude a alcançar os seus objetivos e os seus sonhos.

Na obra, os leitores podem acompanhar as aventuras do jovem Afonsinho. Como surgiu a ideia para esta referência ao Rei D. Afonso Henriques? 

Evidentemente que este nome não surge por mero acaso. Na procura do nome a dar à personagem principal, o nome Afonso era aquele que reunia mais pontos a favor, pois não só daria um diminutivo carinhoso, como é o nome do primeiro Rei de Portugal, figura inevitavelmente associada à coragem, a lutas e grandes conquistas. Para além disso, o meu filho mais novo chama-se Afonso.

Qual é a sua relação com a Esgrima?

O primeiro contacto que eu tive com a Esgrima surgiu há cerca de três anos em que, na qualidade de professor de Educação Física, frequentei uma ação de formação organizada pela Associação de Esgrima da Madeira. Aí, constatei o quão nobre e fantástica é a modalidade. Pude viajar no tempo e reviver as minhas brincadeiras em criança. Confesso que, com o fato vestido e de espada na mão, me senti um verdadeiro D’Artagnan pronto para enfrentar qualquer vilão.

Qual é para si o potencial que a prática da modalidade de Esgrima tem para os mais novos?

Entre tantos benefícios, que de certa forma são transversais a tantas outras modalidades desportivas, considero que a prática da Esgrima evidencia valores que deverão nortear não só as crianças como os mais velhos, como o respeito, a cortesia e a superação.

Quanto tempo demorou a produzir a obra? Quais os maiores desafios?

Digamos que até foi um processo de criação rápido. Cerca de dois, três meses. Foi uma história que me deu muito prazer e vontade em estar em constante processo de criação. Quanto aos maiores desafios foram, sem dúvida, a procura de conhecimentos técnicos e específicos da modalidade que, naturalmente, eu não dominava. Neste campo, para além de muita pesquisa online, pude contar com a importante colaboração da, à data, Presidente da Associação de Esgrima da Madeira, Sónia Pereira.

Pode falar-nos da colaboração com Carlos J. Campos que resultou nas ilustrações que podem ser vistas no livro? Que imagem procuraram materializar? 

O ilustrador Carlos Campos, sem dúvida um dos melhores em Portugal, valorizou sobremaneira a história do Afonsinho com as suas maravilhosas ilustrações. Se a nível estético é bem visível a qualidade do seu trabalho, também os pormenores técnicos são bem reveladores da sua preocupação em retratar o mais fielmente possível esta modalidade, que também ele não dominava, e onde a elegância sobressai.

Que feedback tem recebido da obra desde que foi lançada em 2019?

Considero que foi uma aposta ganha. Senti-me extremamente realizado com a sua produção e procura. A reação foi muito positiva, quer pelos mais novos, que se imaginaram também eles verdadeiros campeões, quer pelos mais velhos que puderam viajar até à sua infância e recordar o sentir de uma espada na mão.

Antecipa a produção de mais obras relacionadas com a Esgrima? 

Quando em 2014 escrevi “O Campeão do Ping-Pong”, não imaginava que, logo de seguida, se proporcionasse a criação de mais dois livros acerca da mesma modalidade, por isso, não ponho de fora essa hipótese relativamente ao mundo da Esgrima que tanto passei a gostar e a admirar. Quem sabe?